Arquivo da etiqueta: Eddy E. Jiménez

O CEDRO VIVE

Por Eddy E. Jiménez*

Tradução de Lujan Miranda

No passado mês de dezembro foram presos na cidade de Chapecó, Estado de Santa Catarina, Brasil, oito líderes indígenas que historicamente têm lutado pela devolução de suas terras, ocupadas em função de interesses econômicos, políticos e em ocasiões até eleitorais.

Para o Conselho Indigenista Missionário, está em curso um novo capítulo da antiga e recorrente estratégia de criminalizar líderes de grupos e povos que lutam para conquistar e garantir o direito à dignidade, à justiça e à vida.

A um dos líderes indígenas presos, o cacique Idalino Fernandes, o conheci há cinco anos, quando visitei sua aldeia. Da conversa que tivemos então, nasceu esta crônica que até hoje se manteve inédita e que agora utilizo não só para denunciar o arbitrário e injusto arresto, senão também, para sensibilizar sobre a luta que hoje desenvolvem em prol de seus direitos os originários habitantes de Nossa América.

Por lá, pela aldeia de Chimbangue, pertencente ao grupo indígena dos Kaingang, me contou o cacique Kaxifá como a vida ainda brota, em que pese que o homem branco secou o cedro do Cacique Velho.

No sul do Brasil, pela bela e fria Santa Catarina que, em que pese haver sido colonizada por europeus, em suas entranhas não se assemelha à Europa, vive Kaxifá, ou Idalino Fernandes para poder ser reconhecido como pessoa na terra que foi de seus pais e avós.

Do portal de sua vivenda, quase idêntica às do resto do povo, pois seu cargo não oferece privilégios, apenas se podem distinguir as outras casas do assentamento, todas pobres e rústicas, porém de preciosas madeiras. Assim, à distância e em harmonia com a natureza, se inserem os Kaingang entre as árvores de ñmbi tbi (pitanga), fag (araucária) ou fó (cedro).

Um deles, o cedro seco que vi ao chegar ao lugar e que em vida deve ter sido uma robusta árvore, deu lugar a esta história que pode ser bem comum a todo o Continente.

Quando o Cacique Velho descansou para sempre, ninguém sabe em que ano do século XIX, no seu túmulo foi fixada uma cruz de madeira de cedro. Esse costume faz parte da cultura Kaingang; da cruz brota uma nova árvore que significa a continuidade da vida.

Para debilitar o espírito de luta do povo indígena os colonizadores fizeram vários ocos na raiz do cedro e lhe colocaram sal; tentavam fazer-lhes crer que a árvore morreria com a continuidade dessa cultura.

Não sabiam os bárbaros que se para eles a terra é poder e riqueza, para os indígenas seu valor consiste em fazer parte da cultura e da história.

Passaram-se os anos e o que ficou do povo Kaingang está ali na terra onde viveram seus antepassados, onde outros cedros brotaram sobre os túmulos.

Ao retirar-me de Chimbangue e despedir-me de Kaxifá senti que Nossa América, todos os que somos descendentes de indígenas temos dívidas pendentes com eles: primeiros e verdadeiros donos deste Continente.

Também pensei que entre tanta morte e desgraças os Kaingang não são os mais desafortunados, todavia alguns existem e lutam para não ser desarraigados; ainda que a “civilização” trate de exterminá-los, incluindo o refinado método de induzi-los a reproduzir um mundo que não é o deles.

Outras nações indígenas não puderam nem sequer deixar firme a história de sua passagem pelo planeta. Um exemplo disso foram os nativos de Cuba, a maior ilha do Caribe.

Já em território “civilizado”, resguardado do calor graças ao ar condicionado de uma biblioteca, bem longe do cheiro do frescor da floresta, encontrei algumas estatísticas que creio sempre devam ser escritas com tinta vermelha nos livros de história:

Na região do que é hoje a América Latina se estima que existiam, ao iniciar-se a colonização européia, uns 80 milhões de nativos, distribuídos em 3 mil nações; em 1992 a cifra era ao redor de 37 milhões.

Todos sentimos horror quando ouvimos falar dos campos de concentração, das bombas nucleares contra Hiroshima e Nagasaky, das guerras mundiais, no entanto, muitos lêem as passagens da conquista da América como novelas de aventuras e até dão graças ao conquistador, “por não andar ainda com taparrabos”.

Nenhum dos massacres do século passado pode comparar-se à história da conquista e colonização americana.

É que a história tem sido escrita pelos vencedores e devo confessar que quando leio as notícias que me chegam sobre a nova colonização planetária, temo que nós, os latino-americanos, sejamos os indígenas deste novo milênio.

500 de quê?

Por saudável hábito social, a maioria dos seres humanos tende a festejar quanto aniversário se preste para lançar as campainhas à fantasia, o que no âmbito popular significa tomar umas quantas cervejas a mais, bailar até que as batatas da perna tremam ou qualquer outra manifestação que transcenda o cotidiano.

As comemorações as incorpora o homem à sua cultura, e se alguém quiser festejar todas as contidas no calendário, sua intenção se veria interrompida por um coma alcoólico ou por esgotamento, nos casos dos que gostem desse tipo de bebida ou dos amantes do tonel; inclusive, até os que optarem por uma diversão mais sã ou sossegada veriam interrompidos os festejos quando a parca, por antiguidade, cortar os fios que os atam a esta pasantia sem retorno.

Ainda que não seja minha intenção jogar água na festa de ninguém, nem sequer aos que nas sociedades de consumo inventam estes pretextos para obter lucros, devemos reconhecer que há muitas comemorações impostas por e para bem de certas minorias.

Por exemplo, por aí houve governantes que festejaram os 500 anos da chegada dos europeus ao que são hoje seus países; entenda-se o início da conquista e colonização.

Recordo que em 1992, ainda um pouco esfregando minha cabeça, julguei como aceitável a idéia de que os americanos celebrássemos como um “encontro entre duas culturas” a chegada de Cristóvão Colombo e sua marinha a estas terras.

Tratava-se de uma “solução” salomônica (política), ainda que não muito realista, na qual os pro (indigenistas, americanistas, europeístas, primeiro mundistas e outros tipos istas), forçavam a um ponto em comum o significado da data, como forma de evitar lançar-se às vias de fato.

Tão oculto foi o final que, se nos ativermos irrestritamente a esse significado, só festejamos o encontro entre os europeus e os habitantes de Guanahaní, pequena ilha do arquipélago das Bahamas, chamada assim por seus aborígines.

Como naquele momento a aldeia não estava globalizada, o resto dos habitantes, três mil nações indígenas, que segundo os estudiosos povoavam este Continente, cada uma com sua cultura e sua língua, não puderam se inteirar do encontro entre essas duas culturas.

Tão pouco nessa época lhes foi possível conhecer o restante dos nativos do Continente, pois nesse mútuo descobrimento alguns deles haviam sido seqüestrados pelo intrépido navegante genovês, com o objetivo de servirem de intérpretes perante seus próprios companheiros e depois ser levados à Península Ibérica, como mostra de que haviam chegado à Índia.

Por certo, na literatura que consultei se narram com pelos e señas as aventuras e desventuras do “infeliz” Colombo, que foi traído pelos reis católicos e “morreu na pobreza”, porém somente me aparece uma informação acerca desses indígenas pirateados: “todos queriam ver os índios” (como se fossem raros animais).

Talvez algum dia, um erudito na matéria logre saciar minha humana curiosidade sobre a sorte corrida pelos que, até esses momentos, eram habitantes de Guanahaní.

Agora bem, o fato de que não fiquem dúvidas de que no 12 de outubro de 1492 não houve encontro, não é óbice para negar todos os posteriores desencontros.

Então, o que é que se festejou ou se quer ainda festejar? Digo isto porque cada dia aparece um novo aniversário.Há quem diga que o tema para a alegria é que nos tenham descoberto.

Outros alegam que o que se comemora é a chegada da “civilização”.

Os que têm sofrido, a maioria sem voz, pensam que se algo há a comemorar são os 500 anos de resistência.

Enfim, tudo é de acordo ao cristal , através do qual se quer mirar. Exploradores e explorados nunca poderão estar de acordo, o que me preocupa é que alguns destes últimos, que de puídos levitam, se sintam animados ao cortejo.

Se de algo vale: Perdão!

Enquanto os porta-vozes do primeiro mundo para a América Latina transmitem as idéias sobre temas a festejar e seus asseclas subdesenvolvidos preparam cenários, pelas estradas informativas circulou em março de 2000 a notícia de que o papa João Paulo II pediu perdão por alguns pecados cometidos por “zelosos praticantes da fé católica” durante os últimos milênios.

Assim, o já falecido estadista lamentou publicamente as evangelizações forçadas no Terceiro Mundo, pediu perdão a judeus, membros de outras etnias, povos maltratados e a todos os que, nestes dois mil anos, têm sido perseguidos por esses “zelosos”.

Como é lógico, associei a desculpa pelas evangelizações forçadas às conseqüências para nosso Continente da nada santa Inquisição, obra institucional importada dos colonizadores, e temi que a algum político latino-americano, desses que miram pelos olhos do primeiro mundo e são mais papistas que o Papa, se lhe ocorra dizer que não há nada que perdoar e propusera incluir-la nos festejos.

Oxalá, que assim não seja!

Não obstante, diz um velho refrão “antes tarde que nunca”; penso que algum dia outros poderosos terão que pedir perdão ao Terceiro Mundo, já não só pela cruz (mal usada), a fogueira e a espada, senão, também, pelo fuzil, o átomo, os vírus, as baterias…

Porém, voltando ao tema das celebrações, me afilio aos que crêem que os 500 anos de resistência merecem ser festejados de muitas formas e nenhuma delas, por certo, inclina a fazê-lo em torno a uma mesa repleta de latas de cerveja; assim se pudera contribuir ao esquecimento, nunca à rebeldia.

Gostaria que um ano depois das celebrações pelo encontro das culturas se houvesse festejado, também, o momento em que, indignados pelos abusos sexuais de que eram vítimas suas mulheres, os nativos da ilha de La Española, ocupada hoje pelo Haiti e República Dominicana, destruíram o forte de Navidad e fizeram justiça a seus ocupantes.

Foi este o primeiro broto de resistência contra o colonizador.

Hoje, a historiografia dos vencedores delineia como seus mártires primogênitos na colonização a Diego de Arana e ao redor de quarenta homens que Cristóvão Colombo deixara no primeiro enclave colonial europeu em nosso Continente, antes de retornar à Espanha.

No lugar onde se supõe esteve encravado o forte Navidad deveria erigir-se um monumento que recorde aquele ato, em que os dignos e justos acertaram contas ao estupro e luxúria colonialistas; talvez assim os genocidas e violadores desta época reflitam mais sobre qual pode ser uma das possíveis variantes, se persistem em seu labor colonizador.

Aos que por ignorância ou espírito dócil se regozijem de que fomos descobertos há que lhes explicar que se descobre o desconhecido; eram eles, os europeus daquelas épocas, os que não nos conheciam; são eles os que têm que dar graças por haver nos conhecido. Ao final de contas, graças a nós se fizeram e seguem se fazendo ricos.

Têm sido encontrados na América do Sul restos da presença humana que remontam há mais de 48 mil anos, nossos aborígines se conheciam entre si, estas terras tinham dono, a colonização não foi mais que um processo de apropriação ilegal.

Os que se sentem aliviados porque graças ao colonizador usam calçõezinhos ou calças compridas e não taparrabos devem conhecer que conceitos, tais como “civilização”, “liberdade” “progresso” e “direitos humanos”, entre outros, sempre têm sido disputados pelas classes dominantes, que ao julgar-se donas da cultura e da lei, determinam quem são ou não os civilizados.

Todos devemos recordar que em nome da civilização e da superioridade racial, milhões de seres humanos têm sido exterminados ou condenados à degradação durante os últimos 500 anos do milênio que se foi, tanto no Velho Mundo como neste lado do planeta ao qual os europeus deram o nome de América.

Ocre e preto: cores da alegria

Quinhentos anos depois do início da conquista estou convencido de que, sob novas formas e com colonizadores que vestem outras roupagens, esta não só continua, senão, também, que nos a apresentam como um fenômeno interminável, perante o qual nada podemos fazer, salvo nos resignarmos.

Sempre me deixa infestado de dúvidas a história relatada pelos opressores, e nesses primeiros anos de colonização eles eram os únicos que podiam deixar escrita sua versão.

Junto à colonização se iniciou o extermínio dos indígenas que não estavam aptos para suportar os rigores dos desumanos trabalhos a que eram submetidos.

Ficava claro para os colonialistas que a massa humana encontrada na América não estava em condições de garantir-lhes o aumento do fluxo de riquezas até a metrópole e apelaram para a escravidão africana já conhecida em Portugal e Espanha, para substituir a mão de obra.

Por desconhecimento há quem culpe ao frei Bartolomeu de las Casas pelo início da escravidão africana na América. Como qualquer outro portador, Las Casas tinha sob seus cuidados indígenas que trabalhavam para enriquecer aos poderosos, porém a favor dele a história registra que se sentiu comovido ante tanta desgraça, renunciou à encomenda que lhe haviam entregado e dedicou o resto de seus dias a advogar ante as autoridades espanholas em prol de que os nativos fossem tratados humanamente e aliviaram suas penúrias com a introdução de escravos africanos.

Dizem que de boas intenções está pavimentado o caminho do inferno; ainda que a escravidão africana já existisse no “Novo” Mundo – se não fosse assim de todas as formas teria sido introduzida – Las Casas dotou os escravistas de argumentos aparentemente humanos para iniciar em grande escala o tráfico negreiro.

Ainda assim crendo na boa fé do Protetor dos Índios, título que foi outorgado a Las Casas, na Espanha, o certo é que o extermínio indígena continuou em todo o Continente e os exploradores aceitaram de muito boa vontade sua recomendação. Ao genocídio contra os indígenas veio a somar-se a ignomínia da escravidão africana.

Talvez tivesse que ir pensando em agregar ao título outorgado a Las Casas: Protetor dos Índios e Inimigo dos Negros.

Ninguém nunca poderá calcular as dezenas de milhares de africanos que antes de chegar à América morreram nas travessias, como tão pouco os milhões que deixaram suas vidas nas plantações sob os golpes de chicote ou em seu afã por recobrar a liberdade em que eles ou seus antepassados nasceram.

Resulta lógico que os europeus se sintam animados quando celebram exageradamente as conquistas. O ouro, a prata, as madeiras preciosas… que adornam hoje castelos e museus do Velho Continente em boa medida lhes chegaram da América e foram extraídas por mãos indígenas e negras.

Esses braços foram os que proporcionaram ao explorador a acumulação originária para dar o golpe de morte à sociedade feudal e empreender o caminho do capitalismo; esses foram os braços que fizeram rico ao Primeiro Mundo.

O ocre e o preto devem ser as cores que na Europa e América do Norte se usem como sinal de alegria; graças a eles nasceram as elites de poder desses países e graças a eles seus povos (ainda que não sejam os culpáveis e a maioria nem sequer o imaginem) podem orgulhar-se de serem “prósperos” e “civilizados”.

Para os que pensam que a colonização e a conquista são temas históricos e ao ler estas crônicas se sintam transportados no tempo lhes argumento que estão equivocados, elas ainda continuam do mesmo modo que a luta contra os colonizadores.

São exemplos dessa guerra a batalha dos zapatistas pela sobrevivência dos povos de Chiapas, o combate contra o processo de dolarização, com o conseqüente empobrecimento, que indígenas e humildes em geral levam a cabo no Equador há anos e a luta dos bolivianos em prol da recuperação de seus recursos naturais.

Porém, neste caso me nego à humildade: por que não colocarmos como exemplo? A heróica luta que há quarenta e cinco anos levamos os cubanos para impedir que voltemos a ser colonizados faz parte desses 500 anos de resistência.

Encharcada em sangue indígena

Nessa grande colcha de retalhos que é a América, o sangue africano veio a somar-se ao indígena e juntos iniciaram a obra a que se somou o imigrante europeu que não pode enriquecer-se e terminou, também, sendo colonizado.

A grande contradição da história da humanidade, a existente entre exploradores e explorados, é a mesma que se deu e se dá hoje em Nossa América, por isso os americanos pobres lutaram pela independência no século passado e ainda que nem todos os processos independentistas tenham sido dirigidos pelas elites crioulas, estas lograram capitalizar os resultados da vitória.

Ao concluir esse longo processo iniciado a princípios do século XIX, na Venezuela, pelo culto e de gestos europeus Francisco de Miranda, o Precursor, o qual culmina em 1898 com o fim da Guerra de Independência de Cuba, cujos principais líderes foram heróis populares e nada tiveram que ver com as elites crioulas, os verdadeiramente beneficiados foram em todos os casos as camadas oligárquicas nacionais.

Muito certo esteve José Marti quando em 1893, já a ponto de encerrar-se o ciclo histórico da primeira independência da América, assegurava: “… o que ele não deixou feito, sem fazer está até hoje: porque Bolívar tem que fazer na América ainda!”

Por desgraça essa sentença, válida para o século XIX, se mantém vigente no XXI.

A justiça a que se podia aspirar dentro do regime social predominante naquela época e a que tinha direito o povo latino-americano depois das lutas por sua liberdade, ficou definida só na forma de enunciados nas constituições.

Os oligarcas queriam emancipar-se das metrópoles, para romper com os laços que freiavam seu desenvolvimento econômico e buscar novos aliados que garantisse seus interesses, porém não Revolução, que significa justiça e verdadeira soberania. Assim, na América Latina se iniciou uma nova fase da conquista: a neocolônia.

Encharcada em sangue indígena, molhada no suor do negro e com as mãos cheias do roubado ao vizinho já havia surgido um novo poder hegemônico no mundo, simbolizado pela Estátua da Liberdade.

Como bem definiu Lênin, a Guerra Hispano-Cubana-Norteamericana foi o primeiro conflito imperialista da história e veio a mostrar às mais poderosas nações da Europa os limites de seu poder e o caminho a seguir para manter sua situação como potencias neocoloniais.

A nova metrópole deslocou as velhas competidoras do que julgou como sua área natural de influência, todo o continente americano, e as instruiu na nova era da conquista.

Deviam compreender as velhas potências que América era para os americanos (na realidade norte-americanos, porque até o nome nos roubaram); que resultava mais conveniente incorporar estrelas a uma bandeira que fundar colônias; que salvo algumas estratégicas posições isoladas era e segue sendo economicamente mais rentável governar o planeta através de bem pagos administradores nacionais; que o comércio (intercâmbio desigual), o sistema financeiro (empréstimos leoninos), os investimentos (compras bem baratas daquilo que vale milhões) assegura mais o poder que a espada, o chicote e o arcabuz…

Não há melhor berço que o do mesmo pau, reza um velho refrão que os oligarcas crioulos lhe têm estado há altura. Estes cidadãos do primeiro mundo, por aceitação, têm demonstrado ser tão úteis e eficientes que, em maior ordem e apego às leis, as potências neocoloniais podem extrair atualmente do Terceiro Mundo, em um só ano, mais riquezas que em um século de colonialismo.

Nesta etapa da conquista os riscos são mínimos; até o momento a tática tem consistido em alternar de acordo à conveniência as ditaduras com os regimes “democráticos”, em ocasiões mais assassinos e entreguistas que os intitulados tirânicos.

Se sobrevém alguma explosão social o tirano é geralmente bem acolhido no Primeiro Mundo e em seu lugar virá a “democracia” burguesa a revitalizar a ilusão nos humildes.

Entretanto, quando os povos se negam a esquecer, para tranqüilizar a opinião pública, fazem ver aos que eles batizaram como índios que em seus países não há justiça porque não imitam bem ao primeiro mundo e assentam um precedente nefasto que possa ser utilizado no futuro contra progressistas, revolucionários ou simplesmente frente aos que incomodem o governo mundial, pode ser que um mago do norte faça aparecer a um Baltasar, muito efetivo em perseguir a pequenos levantes ibéricos em luta contra a injustiça, que tente infrutíferamente julgar, em sua ruína, bodes expiatórios latino-americanos, agora embelezados com seus elegantes trajes civis. De todas as formas, a justiça valerá somente como substantivo.

Não obstante, os ricos do norte esquecem que o cedro ainda vive e que não só esgotam as riquezas do Sul, senão, também, os meios para explorá-las.

Não por gosto, os originários donos da América saem do sonho e demonstram suas forças.

Eddy E. Jiménez: Escritor, periodista, profesor de la Universidad de La Habana.

Últimos libros publicados La Revolución de los Camaleones” y “Hablar de Cuba. Hablar del Che, conversaciones con Leonardo Boff y Frei Betto . Editorial Quimantú (Chile)