Gustavo Carneiro – Avante!
A organização internacional Save the Children (Salvar as Crianças) alerta que os bombardeamentos israelitas contra o Líbano ameaçam a vida de mais de 345 mil crianças. Só na segunda-feira terão sido mortas 50. Ali perto, na Faixa de Gaza, estavam identificados 11.355 menores assassinados nos ataques de Israel, entre muitos outros cuja identidade não foi possível apurar ou que permaneciam “desaparecidos” sob os escombros (os dados são de meados de Setembro) Um documento publicado pelas autoridades de saúde de Gaza, com 649 páginas, lista as vítimas mortais confirmadas por ordem crescente de idade: a lista abre com os nomes de 710 bebés até um ano; o primeiro adulto, uma rapariga de 18 anos, surge apenas na página 215 e são precisas 115 para apareçer a primeira criança de 10 anos.
No dia 21, o Le Monde conta a história de Muhammad Abu al-Qumsan, de 33 anos, um pai de Gaza que perdeu os seus gémeos, Aseel e Aser, de apenas três dias: «Cinco minutos depois de receber a certidão de nascimento, estava a receber as certidões de óbito», afirmou, em lágrimas, ao jornal.
Aos mortos somam-se os mutilados. Já em Junho tinha sido denunciado que, por dia, cerca de 10 crianças perdiam pelo menos uma perna na Faixa de Gaza (a contabilidade não incluía os membros superiores). A maioria das amputações, que se contam já aos milhares, são realizadas em condições terríveis e às vezes sem anestesia, dado o nível de destruição e as carências verificadas no sistema de saúde do território em resultado dos ataques de Israel. Também a fome severa e as doenças atingem milhares de crianças, sujeitas – também elas – ao bloqueio à entrada de alimentos, medicamentos e equipamentos médicos.
Na Cisjordânia, o número de menores mortos ou feridos pelas forças militares e colonos israelitas duplicou em quase um ano, sobretudo desde o final do mês de Agosto, com o recrudescimento dos ataques aéreos e das incursões terrestres: a 17 de Setembro estavam contabilizados 158 mortos e 1400 feridos, uma média de cinco jovens atingidos a cada dia. De uma dessas incursões, ao campo de refugiados de Tulkarem, Dalia, de 12 anos, recorda: «No segundo dia, senti muito medo por causa dos ataques aéreos e dos tiroteios. No terceiro dia, fiquei ainda mais assustada porque as forças israelitas invadiram a nossa casa.» A mãe, Hind, acrescenta: «A Dalia estava parada, a tremer no canto. Apontaram-me as armas (…). As crianças estão constantemente assustadas, privadas das coisas mais simples. A sua saúde mental está a deteriorar-se.»
Razão tem Viriato Soromenho-Marques, que numa entrevista recente afirmou que é difícil ouvir a «ladainha da nossa superioridade moral sem sentir vómitos», sendo o nós, aqui, o chamado “Ocidente” – o imperialismo. hipócrita e sanguinário.